segunda-feira, 10 de julho de 2017

Das raízes

Miranda não é a cidade onde nasci mas morei lá grande parte da minha vida. Depois, pela força da interioridade e como acontece com a grande maioria do pessoal jovem, tive de sair para ir estudar. Estive no Porto cinco anos e regressei a Trás-os-Montes (desta vez para Bragança) para exercer a minha actividade profissional. Gosto de Bragança. Foi lá que conheci o meu marido, foi lá que nasceu o meu filho, lá tenho grandes amigos e agora, a minha casa. Mas no Sábado, aconteceu alguma coisa dentro de mim que nunca me tinha acontecido...pela primeira vez, senti-me parte de um lugar...senti que afinal, Miranda, é o meu lugar. Não sei se foi de cantar em mirandês as arribas, as flores e o Douro...não sei se foi de me ver na Praça onde tantas vezes brinquei em criança, rodeada de gente que me viu crescer...não sei se foi a noite amena de julho rasgada pelo som da gaita de foles...senti que afinal todos temos um lugar e que Miranda, é o meu.  Esta clarividência aconteceu-me de uma maneira tão inesperada como bonita...trinta e dois anos depois. Miranda é uma cidade pequena de tamanho mas grande de tradições e de beleza. Miranda tem alma. Tem raiz. Miranda fala uma língua doce e musical. Miranda tem música. Miranda é música. Miranda é apenas mais um lugar do mundo...mas é o meu lugar. E apesar de termos sempre a tendência de apontar defeitos às pessoas que são da nossa convivência, não posso dizer que em Miranda há pessoas piores que noutros lugares...apenas que há pessoas... capazes de coisas más mas também de coisas muito boas e muito belas. Pessoas de coração grande e generoso. Gente lutadora, aguerrida e com vontade de fazer melhor. Gente que se destaca em várias áreas e que me enche de orgulho e de gratidão. No Sábado, olhei para o meu filho que dormia no colo do avô e pensei que quero muito que ele sinta também esta pertença. Quero que ele cresça a saber que pode voar mas que tem uma raiz que o prende a um passado e a uma história da qual ele faz parte. E quero que um dia, quem sabe, numa qualquer noite de julho ele sinta o mesmo respeito e gratidão que eu senti ao saber que afinal, posso correr o mundo que haverá sempre um lugar onde posso voltar e sentir-me em paz por saber que regressei a casa. 

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