Miranda não é a cidade onde nasci mas morei lá grande
parte da minha vida. Depois, pela força da interioridade e como acontece com a
grande maioria do pessoal jovem, tive de sair para ir estudar. Estive no Porto
cinco anos e regressei a Trás-os-Montes (desta vez para Bragança) para exercer
a minha actividade profissional. Gosto de Bragança. Foi lá que conheci o meu
marido, foi lá que nasceu o meu filho, lá tenho grandes amigos e agora, a minha
casa. Mas no Sábado, aconteceu alguma coisa dentro de mim que nunca me tinha acontecido...pela
primeira vez, senti-me parte de um lugar...senti que afinal, Miranda, é o meu
lugar. Não sei se foi de cantar em mirandês as arribas, as flores e o
Douro...não sei se foi de me ver na Praça onde tantas vezes brinquei em
criança, rodeada de gente que me viu crescer...não sei se foi a noite amena de
julho rasgada pelo som da gaita de foles...senti que afinal todos temos um
lugar e que Miranda, é o meu. Esta clarividência aconteceu-me de uma
maneira tão inesperada como bonita...trinta e dois anos depois. Miranda é uma cidade pequena de
tamanho mas grande de tradições e de beleza. Miranda tem alma. Tem raiz.
Miranda fala uma língua doce e musical. Miranda tem música. Miranda é música.
Miranda é apenas mais um lugar do mundo...mas é o meu lugar. E apesar de termos
sempre a tendência de apontar defeitos às pessoas que são da nossa convivência,
não posso dizer que em Miranda há pessoas piores que noutros lugares...apenas
que há pessoas... capazes de coisas más mas também de coisas muito boas e muito
belas. Pessoas de coração grande e generoso. Gente lutadora, aguerrida e com
vontade de fazer melhor. Gente que se destaca em várias áreas e
que me enche de orgulho e de gratidão. No Sábado, olhei para o meu filho que
dormia no colo do avô e pensei que quero muito que ele sinta também esta
pertença. Quero que ele cresça a saber que pode voar mas que tem uma raiz que o
prende a um passado e a uma história da qual ele faz parte. E quero que um dia,
quem sabe, numa qualquer noite de julho ele sinta o mesmo respeito e gratidão
que eu senti ao saber que afinal, posso correr o mundo que haverá sempre um
lugar onde posso voltar e sentir-me em paz por saber que regressei a casa.
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