quinta-feira, 29 de junho de 2017

FARTA, FARTA, FARTA

Se deito o meu filho quando tem sono, estou a habituá-lo mal. Se o deito tarde "isso não é hora das crianças irem dormir". Se lhe dou mama, o menino passa fome porque o leite já não é suficiente. Se não lhe dou mama sou uma cabra egoísta que não penso no meu filho e apenas no meu bem estar. Se lhe dou açúcar antes dos 2 anos, olha que raio de exemplo vindo de uma nutricionista, se não lhe dou açúcar coitadinho do menino todas as crianças comem e tu também comeste e não morreste por isso. Se peço ajuda para cuidar do meu filho sou uma fraca porque "as outras mulheres também cuidaram dos delas, que remédio tiverem e faziam tudo incluindo limpeza geral à casa, brincadeiras de estimulação cognitiva com os filhos, ascensão na carreira, depilação e yoga, Se não peço ajuda, tenho a mania que tenho super poderes e sou uma orgulhosa do caraças. Se ponho o miúdo a dormir comigo estou a habituá-lo mal. Se o ponho a dormir na cama dele, não dorme nem ele nem eu e ando em piloto automático o dia todo. Se ando em piloto automático o dia todo, sou fraca e não aguento nada. Se o ponho a dormir comigo, consigo dormir e ando bem no dia seguinte, não tenho razão de queixa que o meu filho dorme a noite toda. Se o levo a um pediatra particular, sou uma exagerada que a criança está a ser acompanhada no público e não há necessidade de mais. Se não o levo, não sou prudente porque é sempre bom pedir uma segunda opinião. Se o meu marido não tem trabalho é um desocupado. Se arranja trabalho à noite e dorme de dia não pode dormir tanto de dia que tem de estar com o filho e ajudar em casa. Se não dorme de dia e não consegue trabalhar à noite e é despedido é um desocupado que não se preocupa com a família. Se estou a escrever isto é porque tenho tempo de sobra. Exacto. É isso mesmo. Tenho tempo de sobra, estou absolutamente feliz e realizada e só me queixo porque não tenho mais nada que fazer. Porque eu e o meu marido somos uns desocupados. Uns parasitas da sociedade. Um tiro ao lado da criação.  Tivemos a sorte de ter um filho e agora estamos a tentar ser bons pais. Mas não estamos a conseguir. Fazemos tudo errado. Tudo errado. Mas ainda assim (e muito obrigada pela preocupação)  lamento informar...NINGUÉM tem nada a ver com isso.

sábado, 3 de junho de 2017

Fingir...

...que estamos bem, que somos felizes, que somos perfeitas, que não precisamos dormir nem comer nem apanhar sol, que não nos importamos de tomar banhos de cinco minutos e de não ter tempo sequer de secar o cabelo, que conseguimos engolir tudo em seco com um sorriso, mesmo comentários estúpidos e despropositados de gente estúpida e despropositada que não faz a mínima ideia e mesmo assim sermos estáveis e bem sucedidas, que aguentamos tudo porque somos muito fortes, que somos muito fortes e que não choramos, que só sorrimos porque só temos motivos para sorrir. 
Fingir que está sempre tudo bem pode ser cansativo. Fingir que não somos gente de carne e osso e que não quebramos, mesmo que sintamos em nós o maior amor do mundo... mesmo que ser mãe seja a maior dádiva. Mesmo que, pelos nossos filhos, valha tudo...mesmo assim, é cansativo. Não me apetece fingir. Não tenho forças para fingir. Estou cansada, estou muito cansada. Estou extremamente cansada e ser mãe também é isso. Não me apetece fingir que está tudo bem. O meu coração está bem..nunca amou assim. O meu corpo não. O meu corpo dói. Dói todo. Tenho sono, estou cansada, não tenho energia. E que mal há nisso? Sou mãe. Quem não entender, quem ousar criticar, quem me chamar fraca, é porque não sabe do que fala. Ou porque está a fingir. Ou porque é muito, muito forte. Eu não. Eu sou fraca. E sou mãe. E não me apetece fingir.